Arrisque-se

Só quando nos arriscamos é que realmente vivemos (Willian James).

quarta-feira, 19 de junho de 2013



ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS PARA LEITURA DE "FITA VERDE NO CABELO", DE GUIMARÃES ROSA

Antes da leitura:

Chamar a atenção para o subtítulo do conto. Por que “nova velha história”?
Ressaltar o estilo rosiano; prosa poética, uso de neologismo, universalização. (Por conta do estilo peculiar de Guimarães Rosa, sugere-se que esse texto seja trabalhado no 3º ano do EM, depois de os alunos já conhecerem um pouco do autor).Se estiverem com o livro, chamar a atenção também para as ilustrações. Em que medida elas formam, informam ou deformam a compreensão do texto?

Fita Verde No Cabelo (Nova velha história)

Havia uma aldeia em algum lugar, nem maior nem menor, com velhos e velhas que velhavam, homens e mulheres que esperavam, e meninos e meninas que nasciam e cresciam. 
Todos com juízo, suficientemente, menos uma meninazinha, a que por enquanto. Aquela, um dia, saiu de lá, com uma fita inventada no cabelo.
Sua mãe mandara-a, com um cesto e um pote, à avó, que a amava, a uma outra e quase igualzinha aldeia. Fita - Verde partiu, sobre logo, ela a linda, tudo era uma vez. O pote continha um doce em calda, e o cesto estava vazio, que para buscar framboesas.
Daí, que, indo no atravessar o bosque, viu só os lenhadores, que por lá lenhavam; mas o lobo nenhum, desconhecido, nem peludo. Pois os lenhadores tinham exterminado o lobo. Então ela, mesma, era quem dizia: "Vou à vovó, com cesto e pote, e a fita verde no cabelo, o tanto que a mamãe me mandou". A aldeia 
e a casa esperando-a acolá, depois daquele moinho, que a gente pensa que vê, e das horas, que a gente não vê que não são.
E ela mesma resolveu escolher tomar este caminho de cá, louco e longo e não o outro, encurtoso. Saiu, atrás de suas asas ligeiras, sua sombra também vindo-lhe correndo, em pós. 
Divertia-se com ver as avelãs do chão não voarem, com inalcançar essas borboletas nunca em buquê nem em botão, e com ignorar se cada uma em seu lugar as plebeinhas flores, princesinhas e incomuns, quando a gente tanto passa por elas passa. Vinha sobejadamente.
Demorou, para dar com a avó em casa, que assim lhe respondeu, quando ela, toque, toque, bateu:
-"Quem é?"
-"Sou eu..." - e Fita Verde descansou a voz. - "Sou sua linda netinha, com cesto e com pote, com a Fita Verde no cabelo, que a mamãe me mandou."
Vai, a avó difícil, disse: - "Puxa o ferrolho de pau da porta, entra e abre. Deus a abençoe."
Fita Verde assim fez, e entrou e olhou.
A avó estava na cama, rebuçada e só. Devia, para falar agagado e fraco e rouco, assim, de ter apanhado um ruim defluxo. Dizendo: -"Depõe o pote e o cesto na arca, e vem para perto de mim, enquanto é tempo."
Mas agora Fita Verde se espantava, além de entristecer-se de ver que perdera em caminho sua grande fita verde no cabelo atada; e estava suada, com enorme fome de almoço. Ela perguntou:
-"Vovozinha, que braços tão magros, os seus, e que mãos tão trementes!"
-"É porque não vou poder nunca mais te abraçar, minha neta...." - a avó murmurou.
-"Vovozinha, mas que lábios, aí, tão arroxeados".
-"É porque não vou nunca mais poder te beijar, minha neta..." - a avó suspirou.
-"Vovozinha, e que olhos tão fundos e parados, nesse rosto encovado, pálido?"
-"É porque já não estou te vendo, nunca mais, minha netinha...." - a avó ainda gemeu. 
Fita Verde mais se assustou, como se fosse ter juízo pela primeira vez.
Gritou: - "Vovozinha, eu tenho medo do Lobo!..."
Mas a avó não estava mais lá, sendo que demasiado ausente, a não ser pelo frio, triste e tão repentino corpo.

Guimarães Rosa

Durante a leitura:
 Promover a leitura compartilhada, fazendo as inferências necessárias;
 Ir pontuando as características de estilo de Guimarães Rosa 
durante a leitura. Por exemplo: o neologismos – velhavam, agagado, encurtoso, inalcançar; o prosa poética – 4º parágrafo;

Depois da leitura:
 Provocar a reflexão sobre o texto através de questionamentos:
 O texto de Rosa dialoga com qual outro texto da literatura universal (intertextualidade com Chapeuzinho 
Vermelho)? Em que eles se aproximam ou se distanciam?
 Por que a fita era “verde” e “inventada”? Esse questionamento abre a reflexão sobre a temática do texto, ou seja, o processo de crescimento da menina (verde = imaturidade; inventada = que pertence ao mundo da imaginação). Tal processo evidencia-se por pistas linguísticas, a saber:
• “Todos com juízo, suficientemente, menos uma meninazinha, a que por enquanto.” A menina ainda não tinha juízo, ou seja, ainda estava na fase da infância. Ressalta-se a expressão “tudo era uma vez” (2º parágrafo);
• “e o cesto estava vazio, que para buscar framboesas.” O cesto vazio metaforiza tudo o que a menina ainda tinha a aprender.
• “depois daquele moinho, que a gente pensa que vê, e das horas, que a gente não vê que não são.” A palavra “moinho” metaforiza a passagem do tempo, isto é, do crescimento da menina.
• “Fita Verde mais se assustou, como se fosse ter juízo pela primeira vez.” Essa expressão confronta o primeiro parágrafo, quando a menina ainda não tinha maturidade (juízo).
• “Gritou: - "Vovozinha, eu tenho medo do Lobo!..." Questionar o que a palavra Lobo (grafada com maiúscula) pode significar no contexto da trama (medo do desconhecido, da vida, da passagem da infância para a adolescência? São possíveis reflexões.)

Obs. É interessante que o professor faça a leitura do anexo 1 – Uma leitura do conto “Fita Verde no Cabelo”, de Guimarães Rosa, por Érica Antunes.
Como leitura de fruição, depois da análise feita do conto de Guimarães Rosa, sugere-se a leitura de Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque.




quarta-feira, 5 de junho de 2013

O homem sem sorte
Vivia perto de uma aldeia um homem, um homem que era completamente sem sorte. Nada do que ele fazia dava certo. Muitas vezes ele plantava sementes e o vento vinha e as levava, outras vezes, era a chuva, que vinha tão violenta e carregava as sementes. Outras vezes ainda, as sementes permaneciam sob a terra, mas o sol, era tão quente, que as cozinhava. E ele se queixava com as pessoas e as pessoas escutavam suas queixas, da primeira vez com simpatia, depois com um certo desconforto e enfim quando o viam mudavam de caminho, ou entravam para dentro de suas casas fechando portas e janelas, evitando-o.
Então além de sem sorte, o homem se tornou chato e muito só. Ele começou a querer achar um culpado para o que acontecia com ele. Analisando a situação de sua família percebeu que seu pai era um homem de sorte, sua mãe, esta tinha sorte por ter se casado com seu pai, e seus irmãos eram muito bem sucedidos, pois então, se não era um caso genético, só poderia ser coisa do Criador. E depois de muito pensar resolveu tomar uma atitude e ir até o fim do mundo falar com o Criador, que como Criador de tudo, deveria ter uma resposta.
Arrumou sua malinha, algum alimento e partiu rumo ao fim do mundo. Andou um dia, um mês, um ano e um dia, e pouco antes de entrar numa grande floresta ouviu uma voz:
- Moço, me ajude. Ele então olhou para os lados procurando alguém. Até que se deparou com um lobo, magro, quase sem pelos, era pele e osso o infeliz. Dava para contar suas costelas.
Ele falou:

- Há três meses estou nesta situação. Não sei o que está acontecendo comigo. Não tenho forças para me levantar daqui.
O homem refeito do susto respondeu:
- Você está se queixando a toa... Eu tive azar a vida inteira. O que são três meses? Mas faça como eu. Procure uma resposta. Eu estou indo procurar o Criador para resolver o meu problema.
- Se eu não tenho forças nem para ir ao rio beber água... Faça este favor para mim. Você está indo vê-lo, pergunte o que está acontecendo comigo. O homem fez um sinal de insatisfação e disse que estava muito preocupado com seu problema, mas se lembrasse, perguntaria. Virando as costas, continuou seu caminho.
Andou um dia, um mês, um ano e um dia e de repente, ao tropeçar numa raiz, ouviu:
- Moço, cuidado. E quando olhou, viu uma folhinha que vinha caindo, caindo; Olhando para cima, viu a árvore com apenas duas folhinhas.
Levantou-se e observando suas raízes desenterradas, seus galhos retorcidos, sua casca soltando-se do tronco, falou:
- Você não se envergonha? Olhe as outras árvores a sua volta e diga se você pode ser chamada de árvore? Conserte sua postura.
A árvore, com uma voz de muita dor, disse:
- Não sei o que está acontecendo comigo. Estou me sentindo tão doente. Há seis meses que minhas folhas estão caindo, e agora, como vês, só restam duas... E, no fim de uma conversa, pediu ao homem que procurasse uma solução com o Criador.
Contrariado, o homem virou as costas com mais uma incumbência. Andou um dia, um mês, um ano e um dia e chegou a um vale muito florido, com flores de todas as cores e perfumes. Mas o homem não reparou nisto. Chegou até uma casa e na frente da casa estava uma moça muito bonita que o convidou a entrar.
Eles conversaram longamente e quando o homem deu por si já era madrugada. Ele se levantou dizendo que não podia perder tempo e quando já estava saindo ela lhe pediu um favor:
- Você que vai procurar o Criador, podia perguntar uma coisa para mim? É que de vez em quando sinto um vazio no peito, que não tem motivo, nem explicação. Gostaria de saber o que é e o que posso fazer por isto.
O homem prometeu que perguntaria e virou as costas e andou um dia, um mês, um ano e um dia e chegou por fim ao fim do mundo. Sentou-se e ficou esperando até que ouviu uma voz. E uma voz no fim do mundo, só podia ser a voz do criador...
- Tenho muitos nomes. Chamam-me também de Criador...
E o homem contou então toda a sua triste vida. Conversou longamente com a voz até que se levantou e virando as costas foi saindo, quando a voz lhe perguntou:
- Você não está se esquecendo de nada? Não ficou de saber respostas para uma árvore, para um lobo e para uma jovem?
- Tem razão... E voltou-se para ouvir o que tinha que ser dito.
Depois de um tempinho virou-se e correu... mais rápido que o vento até que chegou na casa da jovem. Como ela estava em frente à casa, vendo-o passar chamou:

- Ei!!! Você conseguiu encontrar o Criador? Teve as respostas que queria?
- Sim!!! Claro! O Criador disse que minha sorte está há muito no mundo. Basta ficar alerta para perceber a hora de apanhá-la!
- E quanto a mim, você teve a chance de fazer a minha pergunta?
- Ah! O Criador disse que o que você sente é solidão. Assim que encontrar um companheiro vai ser completamente feliz, e mais feliz ainda vai ser o seu companheiro.
A jovem então abriu um sorriso e perguntou ao homem se ele queria ser este companheiro.
- Claro que não... Já trouxe a sua resposta... Não posso ficar aqui perdendo tempo com você. Não foi para ficar aqui que fiz toda esta jornada. Adeus!!!
Virando as costas, correu mais rápido do que a água, até a floresta onde estava a árvore. Ele nem se lembrava dela.
Mas quando novamente tropeçou em sua raiz, viu caindo uma última folhinha. Ela perguntou se ele tinha uma resposta, ao que o homem respondeu:
- Tenho muita pressa e vou ser breve, pois estou indo em busca de minha sorte, e ela está no mundo.
O Criador disse que você tem embaixo de suas raízes uma caixa de ferro cheia de moedas de ouro. O ferro desta caixa está corroendo suas raízes. Se você cavar e tirar este tesouro daí vai terminar todo o seu sofrimento e você vai poder virar uma árvore saudável novamente.
- Por favor!!! Faça isto por mim!!! Você pode ficar com o tesouro. Ele não serve para mim. Eu só quero de novo minha força e energia. O homem deu um pulo e falou indignado:
- Você está me achando com cara de quê? Já trouxe a resposta para você. Agora resolva o seu problema. O Criador falou que minha sorte está no mundo e eu não posso perder tempo aqui conversando com você, muito menos sujando minhas mãos na terra.
Virando as costas correu, mais rápido do que a luz atravessou a floresta, e chegou onde estava o lobo, mais magro ainda e mais fraco.
O homem se dirigiu a ele apressadamente e disse:
- O Criador mandou lhe falar que você não está doente. O que você tem é fome. Está a morrer de inanição, e como não tem forças mais para sair e caçar, vai morrer aí mesmo. A não ser, que passe por aqui uma criatura bastante estúpida, e você consiga comê-la.
Nesse momento, os olhos do lobo se encheram de um brilho estranho, e reunindo o restante de suas forças, o lobo deu um pulo e comeu o homem "sem sorte".



"SOMOS O QUE FAZEMOS, MAS SOMOS PRINCIPALMENTE
O QUE FAZEMOS PARA MUDAR O QUE SOMOS".

"A leitura realiza uma verdadeira metamorfose no espírito humano"  (Luzia Alves)

domingo, 2 de junho de 2013

Coesão e Coerência Textuais

COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAIS

       Um texto pode ser incoerente se o  autor não consegue inferir um sentido ou uma ideia através da articulação de suas frases e parágrafos e por meio de recursos linguísticos (pontuação, vocabulário, etc.).
A coerência textual é a relação lógica entre as ideias; é o resultado da não-contradição entre as partes do texto; e progressão deste, com a introdução de ideias secundárias que garantem suporte à ideia principal.
    As crianças estão morrendo de fome por causa da riqueza do país. 
    Adoro sanduíche porque engorda.
    As frases acima são contraditórias; não apresentam informações claras, portanto, são incoerentes.


Exemplo de um texto incoerente: 

Está redação foi feita pelo aluno Rodrigo Longo do Colégio Dom Bosco, no dia 20/04/04. 

Viva a educação brasileira!
O vestibular é muito polêmico, e agora o governo resolveu fazer cotas para negros e prá quem veio de escola pulblica.
No caso dos negros,é injusto, já que 50% dos negros nascem pretos, e a metade não. Mas isso ficaria indeciso, pois existem pessoas como o Maicon Jecksson que násceram pretas e não brancas, então pode- se alegar que um loiro têm descendência afro-africana, bem como os orientais.
Logo, podemos dar cotas aos alcólatras, pois estes seguem o exemplo do Presidente. Mas para evitar a complicação do vestibular o ideal seria o sorteio de vagas, assim só os sortudos conseguiriam entrar na faculdade, ou seja, além de um profissional competente, o cara iria ser um profissional de sorte.
É uma pouca vergonha o sistema de cotas, porque os homossexuais seriam desfavorecidos perante ao curso superior, novamente mais um motivo para o Presidente ser bêbado. E não são todas as pessoas que tem oportunidade de estudar em uma boa escola como o COLÉGIO DOM BOSCO.
Todavia, a metodologia do vestibular é totalmente ineficiente e fálico, pois se descobrirem vida em outros planetas o conceitos dos concursos ' Miss Universo' teriam de ser repensados.Desejo a todos uma boa viagem.